Jacarés são temidos na Amazônia, mas insetos matam muito mais

Jacaré-Açu pode ultrapassar cinco metros de comprimento e é encontrado em toda a região amazônica.

Na semana passada, Maria Jaqueline Cruz, de 14 anos, morreu após ser atacada por um jacaré, às margens de um rio,  em Trindade, distrito de Porto Velho. Apesar de serem temidos e apontados como vilões pela população em geral, o número de mortes causadas por esses animais em dez anos, no Brasl,  é baixo. Abelhas vitimaram mais pessoas no período.

ADOLESCENTE É MORDIDA NA BARRIGA

No incidente da última semana, a vítima estava tomando banho em um lago próximo de casa, que fica em uma região ribeirinha, quando o réptil o mordeu na barriga. Ao ser ferida pelo jacaré, a adolescente gritou com força e o animal se afastou.

Depois do ataque, com o auxílio da irmã, Maria Jaqueline foi colocada sobre uma ‘prancha’ de madeira, utilizada para lavar roupas. Em seguida a irmã saiu para buscar ajuda e logo retornou junto da mãe. Quando mãe e filha chegaram ao local perceberam que o jacaré se aproximava da ‘prancha’, mas se assustou e fugiu.

Maria Jaqueline foi retirada do local às pressas, mas não resistiu aos ferimentos.

MAIOR PARTE DOS ATAQUES É NA AMAZÔNIA

Conforme estudo publicado na revista científica Herpetological Journal em 2023, entre os anos 2000 e 2022, o Brasil registrou 86 ataques de jacarés, resultando na morte de 18 pessoas. A maioria dos casos aconteceu na região da Amazônia, onde 17 vítimas perderam suas vidas, enquanto outro incidente fatal foi relatado no Cerrado. 

O trabalho de pesquisa foi apresentado por Matheus Bitencourt, biólogo e mestre em Zoologia do ICMBio em Gurupá, no Marajó, e Gleomar Maschio, biólogo e doutor em zoologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), no artigo intitulado Incidence and characteristics of crocodilian incidents on humans in Brazil during the period 2000-2022,  ou “ocorrência e características de incidentes com crocodilianos em humanos no Brasil durante o período de 2000 a 2022″.

Os pesquisadores vasculharam artigos científicos e reportagens para realizar o estudo inédito. De acordo com o trabalho, embora o Brasil tenha a maior população de crocodilianos do mundo, com seis espécies de jacarés, os sistemas de saúde não relataram oficialmente nenhum acidente com jacarés no Brasil, o que já ocorre com animais peçonhentos como cobras e escorpiões.

Segundo o estudo, a expansão urbana e a destruição ambiental facilitam o encontro de pessoas e jacarés, principalmente na Amazônia, que possui grande quantidade de rios e famílias que os utilizam para o sustento.

CUIDADOS

Em outra parte do estudo, os pesquisadores apontam que na Amazônia e em outros lugares do Brasil é comum que as crianças utilizem os rios para brincar ou se divertir, principalmente na época das chuvas, passando mais tempo na água e, assim, entrando em contato com os jacarés que são extremamente territoriais, especialmente próximo dos ninhos. Isso pode ser um dos motivos para os ataques a humanos.

A pesquisa destaca também que a espécie mais catalogada em ataques é o Jacaré-Açu, que pode ultrapassar cinco metros de comprimento e ser encontrado em toda a região amazônica. A maior parte das vítimas estava pescando ou estava em barco. 

PICADAS DE INSETOS MATARAM MAIS

Embora os jacarés sejam temidos e tidos como vilões, os pesquisadores revelam que número de mortes causadas por eles em 10 anos é baixo, se comparado com outros animais.

Mesmo sendo considerada baixa a incidência de vítimas no Brasil, o biólogo e pesquisador Matheus Bitencourt acredita que o ataques de jacarés se deve ao fato de as pessoas terem mais contato com os animais. No entanto, ele destaca que num período de 10 anos, ocorreram 54 mortes por aranhas, 392 por abelhas, 912 por escorpiões e 1.131 por cobras. De 2010 a 2020, os jacarés mataram nove pessoas.

Fonte: A Gazeta de Rondônia, com informações do site Notícias Marajó

Foto: Jornal Zona Norte